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Santa Paulina e a vida de seu povo – 145 anos de vinda para o Brasil

Vamos recordar um pouquinho da história de Santa Paulina e a história de seu povo que emigrou da Itália para o Brasil?

Peregrinas e peregrinos do Brasil inteiro e também de outros países já vieram e vêm ao Santuário Santa Paulina! Aqui chegam para conhecer esse belo lugar, entre lindas montanhas e encantadora paisagem, neste pedacinho da nossa Mata Atlântica. Este lugar fica localizado no município de Nova Trento, no Estado de Santa Catarina.

Neste chão há uma história escrita com muitas lágrimas, marcada pela luta, coragem e garra, dos imigrantes que desbravaram estas terras. Lembramos a emigração que saiu da Itália para o Brasil, da qual a pequena Amábile Lúcia Visentainer, hoje, Santa Paulina, fez parte.

Queremos fazer memória desse acontecimento tão importante, do qual, como devotos e devotas de Santa Paulina, podemos afirmar que é, também, história de todos nós.

Quem eram os imigrantes que vieram para estas terras?

Na sua maioria, eram pessoas simples, lutadoras e cheias de sonhos de um mundo melhor para si e suas famílias. Trabalhavam na lavoura, na fabricação de seda… entre outros.  Eram, profundamente religiosas, convictas na sua fé e observantes da tradição da Igreja, dentro da orientação da época.

Entre as famílias imigrantes estavam o senhor Napoleone Visentainer e Anna Pianezzer, pais de Amábile, hoje, nossa querida Santa Paulina. Com Amábile, os pais trouxeram outros três filhos.

De onde e por que vieram?

De Trento, Itália, à época, era Tirol, antigo Império Austro-Húngaro.  Vieram porque a região estava assolada pela guerra e todos sofriam as consequências. Uma delas, a situação financeira estava cada vez mais difícil e, quase insustentável.  A emigração foi uma necessidade.

Quando ocorreu a emigração da Família de Santa Paulina?

A emigração da Família de Santa Paulina ocorreu em 25 de setembro de 1875. Essa foi a data que marcou para sempre a vida de todos que vieram no mesmo navio.  Deixar as raízes e partir para um mundo desconhecido não foi tarefa fácil. Embora poucos, mas significativos bens, ficaram para trás. Todos tinham esperança num futuro melhor, mas também, lágrimas nos olhos e aperto no coração. Muitas pessoas idosas olhavam para trás e se emocionavam porque naquele chão viram seus filhos nascerem e crescerem. E agora, que poderiam estar mais tranquilos, precisavam partir. E partir para um mundo estranho.  As crianças não entendiam o que estava acontecendo. Também sentiam deixar seus sonhos naquela terra que já amavam. A pequena e bondosa Amábile era uma dessas crianças. Tinha menos de dez anos. Podemos imaginar o que se passava no seu coraçãozinho inocente. Certamente fazia sua prece a Deus pedindo que Ele protegesse a todos, na longa viagem sobre o mar.

Viagem – navio lotado, entre o céu e o mar

Conforme Ir. Célia Cadorin relata em seus registros, no Documentário sobre a história de Santa Paulina, no navio vieram várias famílias, mais ou menos umas 130 pessoas, entre adultos e crianças.

A embarcação, longe de ser uma das melhores. Navio abarrotado de pessoas.  Era mínimo o espaço para acomodação de todos. O alimento era escasso para tanta gente. Muitos foram acometidos por doenças, durante a viagem. Alguns não resistiram e morreram no navio. Principalmente crianças e pessoas mais idosas. Muitas crianças morriam, mas eram seguradas, com força, por suas mães. Era necessário arrancá-las dos braços maternos para serem lançadas ao mar. Quanto sofrimento e quanta dor! Quantas lágrimas banhavam os olhos de todos! Inclusive, um irmãozinho de Amábile, também faleceu.

Chegada ao Sul do Brasil

Em condições precárias, a viagem durou trinta longos dias, até ao Brasil. Desembarcaram no Porto de Itajaí/em Santa Catarina, em outubro de 1875.

Com os pés na América, mas o coração ainda na pátria que deixaram. Talvez, bastante assustados com o novo mundo, além do cansaço e desgaste emocional. Os olhos só enxergavam mata virgem de todos os lados. Não faziam ideia o quão distantes ainda estavam do destino final. São aproximadamente sessenta quilômetros, ou um pouco mais, praticamente em meio ao mato ou pelo rio. Algumas famílias vieram de carroça; grande parte, a pé, e também com canoas, rio acima, passando por Brusque. Aos poucos, conforme demarcação das terras, as famílias chegavam. Uma história de luta e coragem, difícil de ser traduzida em palavras.

Essas famílias vieram para o distrito do Alferes, que mais tarde passou a se chamar Nova Trento. A família de Santa Paulina seguiu para o local que hoje é o Bairro de Vígolo. O local da casa fica a uns duzentos metros do Santuário, onde temos o belíssimo Monumento da Casa Paterna.

Homens e mulheres desbravaram, corajosamente, estas terras com grande confiança na força de Deus. A religião sempre foi inseparável da vida dos imigrantes e de suas atividades e sofrimentos. As primeiras igrejas que construíram foram: Igreja São José, que ficava no Km 16, na estrada que ligava a Colônia Brusque a Nova Trento, E Igreja dedicada a São Virgílio, onde é a atual Praça Getúlio Vargas, em Nova Trento.

Nesse contexto histórico, Amábile viveu sua infância, adolescência e juventude. Neste chão de Vígolo ela viveu a vida de seu povo. Caminhou com ele. A pequena menina, que um dia deixou sua pátria e atravessou o oceano com sua família e muitas outras, aqui, também foi desbravadora. Foi a coloninha que, de enxada na mão, ajudou a família a conseguir o pão de cada dia, com suor e mãos calejadas. Foi também aquela que hoje chamamos, “Mulher toda de Deus e toda dos irmãos e irmãs!”

Estimada irmã, estimado irmão, com essa mensagem queremos render graças a Deus que nunca abandona o seu povo, mas caminha ao seu lado e o fortalece em todos os caminhos e situações.

Nossa homenagem e gratidão a todo povo neotrentino, pela história de coragem e grande confiança em Deus! Nossa gratidão porque, dessa história, temos o grande presente que foi a pequena Amábile, que em sua simplicidade, humildade e amor incondicional a Deus e ao próximo, é reconhecida pela Igreja como Santa! É a intercessora de todos nós, devotas e devotos! Continuemos a escutar a sua voz, em nosso coração:

“Nunca, jamais desanimeis, embora venham ventos contrários!”

 

Irmã Luzia Cândido dos Santos – CIIC

Santuário Santa Paulina – Vígolo – Nova Trento/SC

Colaboração de Juliano Mazzola, Historiador e Professor, também neotrentino.

 

Bibliografia consultada

CADORIN, Ir. Célia Bastiani. Madre Paulina – Fundadora da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição – Biografia Documentada – Volume I – São Paulo: Loyola, 1986.

NEGRI, Ir. Terezinha Santa. Do Casebre para o mundo – História da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição – Vol I – São Paulo – 2014